Love

É curioso, somente o amor de mãe é generoso, sempre agregando quem esteja por perto e precise de carinho e atenção. Já o amor romântico é egoísta e sempre atrelado a um sentimento de posse. Generosidade é algo que não é permitido na esfera do amor romântico. Se aparecer um terceiro o castelo de amor do casal se desmancha em mil pedaços. Mesmo que quem se envolveu com o terceiro jure que ainda adora o seu amor oficial, este não vai acreditar e vai se sentir renegado. Pois quem ama quer exclusividade, não aceita dividir o alvo de sua paixão com outra pessoa. É hipótese jamais cogitada e se uma das partes vislumbra que esta poderia ser uma hipótese interessante, cala-se pois sabe que se levantar a idéia será vista como imoral. Além de imoral, provavelmente, será vista como louca, pois o dito amor romântico é aquele que completa a pessoa 100%, portanto não sobra espaço para mais ninguém. Mas as pessoas são complexas e cheias de facetas, muitas delas escondidas embaixo da fantasia de pessoal "normal" e que vive de acordo com as regras da sociedade. Esta complexidade gera interesses e estes interesses podem levar as pessoas a se depararem com outras pessoas que a cativem, em geral o sentimento ali surgido é sufocado em nome da preservação do amor que sentem pelo namorado, marido, caso e etc. Deve ser perturbador estar em uma situação assim, sentir atração por outra pessoa e ao mesmo tempo já ter encontrado a "pessoa da sua vida". Pois isso vai contra tudo que é dito pelos terapeutas especializados em relacionamentos de casais. Em geral, salvo algum terapeuta mais revolucionário, eles dizem que a traição ocorre quando algo vai mal no relacionamento, quando a parte que trai está se sentindo preterida ou perdeu o tesão pelo outro. Nunca é vislumbrada a possibilidade de a pessoa se encantar por outro e mesmo assim continuar amando o seu par oficial. Talvez porque isso quebre a ilusão do amor perfeito, a alma gêmea que sempre escutamos que encontraremos um dia. Lidar com a possibilidade esta possibilidade que o tal amor perfeito não exista é assustador, pois significa que nossa alma nunca terá a paz, sempre estará inquieta e sentindo-se incompleta. Eu de vez em quando penso nisso tudo e me assusto. Sou uma pessoa essencialmente romântica e do tipo que acredita no amor eterno. Mas acho saudável fazer este tipo de reflexão, pois a vida tem mais nuances que vislumbramos. A vida nunca segue o roteiro que definimos para ela e podemos sim nos ver diante de situações como as descritas acima.
Este é um post que está há meses sobrevoando os meus pensamentos, post que surgiu numa conversa com uma amiga querida, quando falávamos sobre a vida monogâmica e seus desafios e sacrifícios. E até brincamos que deveríamos fazer um post libertador contra a monogamia. Eu não cheguei a tanto, porque não acho errado levar uma vida monogâmica, mas acho que a pressão por ser monogâmico é grande e que pessoas que não se encaixam neste tipo de relação ficam acuadas e cheias de neuras por quererem algo que vai contra o estabelecido como certo. Mas o mundo não é fácil mesmo, e quem vai contra a maré tem que ser forte para enfrentar as pressões e tentar ser feliz.
Na verdade, este é um post a favor do amor, não importando qual seja o seu tipo de amor. Nunca desista de viver seus desejos e de estar com quem você ama, seja um , dois ou tantos quanto couberem em seu coração!

Nota da Blogueira: sinceramente eu acho que isso tudo na prática deve ser muito complicado, pois controlar o ciúmes é uma das tarefas mais difíceis. Eu acho possível amar mais de uma pessoa ao mesmo tempo, mas não sei se é possível aceitar que quem esteja com você esteja com outra pessoa também.



Comentários

  1. oi amiga, ih, não concordo, nem todo amor de mãe é afetivo e generoso. a monogamia surgiu depois do feudalismo. antes os casamentos existiam pelas posses e bens, mas relações, tanto de homens como mulheres eram liberadas. a questão é que são anos de estrutura monogâmica. as novelas e filmes americanos reforçam a monogamia que é difícil vivermos e aceitarmos outras formas. a monogamia tornou-se cultural. o que sempre leio é que quando um do casal se depara com atração por outra pessoa pesa em uma balança a estrutura e o amor da relação e se vale a pena arriscar por uma aventura. e que muitas vezes preferem não se envolver na aventura pq não gostariam que o outro fizesse o mesmo. mas para uma decisão complexa como essa é preciso muita maturidade e muita sintonia na relação. eu acredito que paixão e amor são dois assuntos distintos. é possível se amar um e sentir paixão por outro. a questão é se queremos viver a paixão, ou se preferimos preservar as estruturas do amor. eu não acho que a paixão surja quando o relacionamento vai mal. acho que ela está aí e alguém pode despertá-la. depende de nós se desejamos alimentá-la ou afastá-la. eu não penso na estrutura do amor romântico, acho que foi construído. mas vivo mais em paz na monogamia. acho que há várias pessoas especiais que podem passar pelas nossas vidas e termos com ela anos e anos de felicidade. mas não acho que amamos uma única vez somente não. acho que toda relação tem sacrifício. adoro a minha solidão e autonomia, mas tenho falta de companhia. quem está casado adora a companhia, mas sente falta da independência. tudo é escolha e saber viver melhor com a escolha. eternamente olhar o que não tem angustia muito. eu tenho visto uma mulher contra a monogamia ser entrevistada. o que sinto é que ela quer forçar a todos os seus conceitos de poligamia e isso sim é falta de liberdade de escolha. beijos, pedrita

    ResponderExcluir
  2. Pedrita, concordo com vc que nem todo amor de mãe é generoso, mas eu o usei este tipo de amor apenas como uma exemplo, pois é um amor, como amor de amigo, que a sociedade não exige exclusividade.

    Eu sei que a monogamia foi estabelecida por conta de fins práticos, por conta de herança.
    E isso virou regra em nossa sociedade e regra que não pode ser violada, sob pena do violador ser esculhambado por todos.
    E o casamento é um desafio mesmo, alimentar o desejo por uma pessoas anos a fio é algo que requer dedicação mesmo.
    Gostei do seu comentário! :)

    Beijos

    ResponderExcluir
  3. também discordo...
    como alguém com um casamento alternativo, posso dizer que é uma delícia e não tem nada de complicado. pra mim, complicado seria tentar viver como se eu só sentisse tesão por uma pessoa e ter só a opção de ficar sozinha ou de ficar infeliz por não conseguir viver plenamente esse mito da "alma gêmea" que me completa e tal.
    não concordo que amor de mãe é generoso. nem sempre é. é um amor sujeito a inveja, a competição, a egoísmo e tudo o mais: seres humanos são ricos e múltiplos, os sentimentos nem sempre são assim límpidos e claros e como "devem" ser. e não concordo também que "Nunca é vislumbrada a possibilidade de a pessoa se encantar por outro e mesmo assim continuar amando o seu par oficial". ué, muitas vezes isso acontece e tem muitos casais que lidam com isso. por isso também não concordo que "Mesmo que quem se envolveu com o terceiro jure que ainda adora o seu amor oficial, este não vai acreditar e vai se sentir renegado", porque justamente tem muito casal, mesmo os que não saem muito longe do que é convencional, que lidam com isso sem desacreditar do seu amor...
    e também discordo que terapeutas "dizem que a traição ocorre quando algo vai mal no relacionamento" - estudo psicanálise e só um mau psicanalista faz uma generalização dessas... isso aí é uma idéia do senso-comum. terapeutas "picaretas" vivem reproduzindo o senso-comum, mas quem é bom e eficiente sabe que a vida humana é cheia de meandros...

    enfim!
    acho que vc está descrevendo um pensamento corrente implicitamente no senso comum - e nisso seu post está totalmente perfeito!

    beijos, marion!

    ResponderExcluir
  4. Lu, a não ser que pessoa já saiba de antemão que o seu cônjuge aceita um relacionamento aberto, é complicado sim uma pessoa perceber que está interessada por um terceiro. Se os dois pensam da mesma maneira é mais simples e com certeza nada complicado.
    Eu tenho a impressão que as pessoas ainda são muito fechadas para este tipo de relação alternativa, ou que mentem muito e não tem coragem de expor suas idéias. Tirando você, nunca vi ninguém achando tudo isso que falei no post como sendo normal.
    Pelo que vejo por aí, quando o terceiro aparece ou o casamento acaba ou o terceiro tem que ser "deletado" para que o casal volte às boas.

    Beijos! :)

    ResponderExcluir
  5. Bem, desde o início eu te afirmei minha repugnância pela hipocrisia. Eu passei um processo até entender o que era realmente estar com alguém, e por outro ainda para entender como é o desejo estando com alguém... e quer saber? É o mesmo, com a diferença de que estar com alguém é uma escolha com todas as suas consequências...

    Por isso mesmo eu não sou dos mais moralistas, tampouco dos cretinos insalubres... pelo contrário. Acredito que o importante é que haja cumplicidade e confiança... isso sim é o que importa!!!

    ResponderExcluir
  6. Complicadíssimo. Eu acredito no Amor, em geral. E é um problema achar que ele só acontece uma vez, porque também existe a morte, né? E ninguém sabe o que pode acontecer, será que uma pessoa não consegue amar outra porque já amou alguém? Mas isso também é um ponto de vista extremo, o da morte. Porque, pessoalmente, eu acho possível se apaixonar várias vezes, amar mesmo, pessoas completamente diferentes. Acho que a parte social interfere muito nos sentimentos verdadeiros. E isso é triste...
    beijo!

    ResponderExcluir
  7. Demian, a hipocrisia é a causadora de muito sofrimento na vida das pessoas. Eu também odeio!
    Acho que a gente vai aprendendo e mudando com o decorrer da vida.

    Helen, concordo com vc! Eu acho que o ato de amar é um "recurso" renovável. Mesmo após algo trágico como a morte da pessoa querida, eu acho possível a pessoa amar de novo.

    Beijos

    ResponderExcluir
  8. É um assunto complicado mesmo, por causa da educação que temos na nossa sociedade. Se os dois topam um relacionamento aberto, ótimo. Se um só topar, a coisa já não vai funcionar. Comigo não daria certo. Imagina, confusa como sou em relação a tudo, amar duas pessoas me deixaria neurótica. E viver com alguém que ama outra pessoa também me deixaria dez vezes mais neurótica. Acho que tudo na vida temos que compartilhar - amigos, família, etc - então procuramos no amor monogâmico algo que seja só nosso, que sabemos que estará lá sempre pra gente (imagina fazer planos praquele dia e descobrir que o dia é do outro/a?). Enfim, tem que ser muito bem resolvido pra encarar uma situação dessas, assim como tem que ser muito bem resolvido quem quer uma relação monogâmica verdadeira, porque ambas tem suas dificuldades.
    Beijos!

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Vamos, comente!!!

Postagens mais visitadas deste blog

Viajando Na Pandemia

A Tripulação

Papiers à la Mode