Adoção não é brincadeira

No fim de semana eu li uma reportagem no site do Estadão que me deixou triste e chocada. A matéria relata casos de pessoas que adotam crianças e as devolvem quando os problemas aparecem. E os problemas relatados são coisas corriqueiras, como de uma mulher que devolveu uma garota de 7 anos apenas porque a menina começou a brigar com a filha biológica dela. O que esta mulher pensa da vida? Será que ela não tem irmãos? Todo irmão briga e uma filha adotiva não vai se portar de maneira diferente, vai brigar vez ou outra com a irmã. Eu acho que o problema aqui é a ilusão criada no momento da adoção, creio que a pessoa acha que ao adotar está fazendo um ato tão bom que só terá alegrias com o filho que acabou de adotar. Não é assim. Quando a gente resolve adotar, está adotando um monte de problemas futuros. Porque a vida é assim, cheia de problemas. Claro que a adoção de uma criança é um ato muito mais complexo que a adoção de um gato, mas acho que vale a comparação mesmo assim. Quando eu adotei o Sam e o Frodo eu estava bem consciente que eu estava assumindo uma responsabilidade por muitos anos, que a chegada deles na minha vida traria muitos gastos, preocupações e muito mais coisas. Eles estão comigo há mais de 5 anos, e durante este tempo já briguei muito com eles, já tive muita raiva, já chorei muito quando eles ficaram doentes, já gastei uma boa grana com tratamentos veterinários, já tive móveis estragados e acordo cedo, mesmo em feriados, para cuidar deles. Mas o amor que tenho por eles é incondicional, mesmo eles aprontando eu não deixo de amá-los. Eles me trazem muitas alegrias, que compensam todos os problemas e fico feliz em vê-los saudáveis. A felicidade deles depende de mim, e eu me esforço para dar uma vida boa para os dois. Mas alguém que só queira o lado bom da adoção não aguenta o tranco. No primeiro problema já devolve o bicho. Infelizmente isso acontece muito. Os meus filhotes mesmo foram devolvidos duas vezes antes de virem morar comigo. O motivo ao certo eu não sei, mas eu suspeito que tenha sido por causa da saúde fraca do Frodo. Ele tem o sistema digestivo bem sensível, não pode comer qualquer ração e vive passando mal. Então quem os pegou antes deve ter desanimado com um gato vomitando quase todo dia. Felizmente ele melhorou muito já, ainda tem seus piripaques, mas vomita menos e está um gato bem saudável. Cansa limpar vômito? Claro que cansa, mas nem por isso eu vou desistir dele. Quando eu adotei os dois eu assumi a responsabilidade completa por eles, responsabilidade que vai durar no mínimo 10 anos. E sinceramente espero que dure mais, que eles sejam aqueles gatos que vivam muito mais do que o esperado.
Eu realmente não pensava que as crianças adotadas passassem pelo mesmo problema de serem devolvidas. Eu sempre achei que uma pessoa que resolvia adotar um filho estava ciente que estava adotando um ser complexo, com defeitos e virtudes. E que, além disso, estava ciente que teria que passar por processo de adaptação (que não deve ser fácil), a família tendo que se acostumar com a criança e vice-versa. Mas parece que tem gente que acha que está adotando uma boneca, que só vai trazer alegrias. Quem adota tem que pensar que está assumindo um filho, seja gente ou bicho, e que filho é para sempre. Filho a gente não devolve. Por isso, se não quer problemas, quer uma vida mais tranquila sem atropelos, não adote, nem gato e nem gente. Pois, pior do que ficar no abrigo à espera da adoção, é ter que lidar com a frustração de ser devolvido. Se um gato já sofre com isso, imagine então uma criança com idade para entender tudo o que se passa? É muita crueldade.


Comentários

  1. Bem assunto sério e triste mas como vc eu digo: eu devolvo a Lara teoricamente a cada segundo, mas Achoq a casa se tornaria um imenso vazio, ela traz alegria na casa e trouxe ânimo para a Marion que senao apenas dormiria nao daria umas corridinhas de vez em quando. E como diz a mãe quem vai cuidar dela como nós cuidamos??? I sso é adotar é aceitar o ser que escolhemos amar com todos os seus defeitos e pensar quem cuidaria assim desse ser alem de mim? Isso é amor real sobre filhos independentes de serem felinos, caninos, humanos ou qualquer outro animal.

    ResponderExcluir
  2. Uma vez vi uma reportagem na tv sobre isso. Tinha um garoto de uns 8 anos que já tinha sido devolvido duas vezes. O processo de adoção é tão complicado e mesmo assim as pessoas parecem não pensar no que estão fazendo. Realmente, deveriam adotar um cachorro pra depois pensar em adotar uma criança, já que como você disse tem gente que nem de bicho é capaz de cuidar. Imagine então uma criança - principalmente já mais crescida - que entende o que é o abandono, que vive uma realidade super dura com um monte de outras crianças com milhões de problemas... Acho que as pessoas pensam que a criança vai ficar tão agradecida pela adoção que vai se comportar como um anjo, mas não é assim. Cada um tem sua personalidade e quem não tem muita paciência não deveria adotar...
    Beijos!

    ResponderExcluir
  3. Sugar, é isso mesmo. Adotar é escolher amar o novo filho com todos os defeitos e qualidades. E aqui tb tem hora que me canso dos dois, mas isso passa e em alguns minutos já estou fazendo cafuné nos dois!


    Rê, Acho que você tocou no ponto certo, parece que quem adota e devolve deve achar mesmo que a criança tem que ser um exemplo de comportamento, pois tem que agradecer por ter sido tirada do abandono. E eu tb não entendo como a pessoa pode chegar ao final do processo de adoção sem ter consciência do que está fazendo, a amplitude do seu gesto.

    Beijos

    ResponderExcluir
  4. eu acho que há uma mistificação da adoção. cansei de ver pessoas mostrarem desejo em adotar pra fazer uma boa ação. e não pq querem um filho. sempre aconselho que nesses casos é melhor ajudar orfanatos, apadrinhar crianças em orfanatos. pq adoção não é ação social. aí acham que a criança nunca vai poder ser ingrata, cuspir na comida, como se ela fosse obrigada a ser boazinha pra sempre pelo ato de amor que fizeram. é um filho como outro qualquer e ainda com algumas sequelas de abandono. raiva da vida pq seus pais verdadeiros não quiseram. essa vida cor de rosa que esses pais colocam é péssima pra todo mundo. beijos, pedrita

    ResponderExcluir
  5. Marion, uma amiga fez como TCC um documentário sobre a adoção de crianças fora daquele padrão desejado, bebês, loirinhas e saudáveis. Ficou muito bonito o trabalho, realista e sem ser piegas. O que mais me chamou a atenção foi de um casal de médicos que adotou uma garotinha de 3 anos, negra e com sindrome de down. Eles tem outros filhos, mas queriam dar uma chance p/ quem praticamente não teria nenhuma. Fiquei admirada com a coragem deles e o amor pela filhinha.
    Já soube de um caso de um bebê, filho de uma moça HIV positivo. A moça não queria a criança. Daí um casal muito simples, que morava na roça adotou o recém-nascido, mesmo sabendo dos riscos da doença. Após a adoção, fizeram o exame e o resultado foi negativo.
    Bom, já vi caso tb de devolução. Uma conhecida, mãe de 2 filhos, adotou um menino de uns 7 anos e o devolveu pq ele tinha vicios, como roubar e mentir. Detalhe : a mulher é psicóloga. Precisa comentar?
    Enfim, é um assunto muito complexo. Tb fico abismada quando a criança órfã ou abandonada é exposta a uma dor ainda maior por causa da irresponsabilidade de quem adota e não dá conta do recado.
    Bjs

    ResponderExcluir
  6. Pedrita, eu também acho que adotar não é ação social. Não pode ser, adoção tem que vir de um desejo sincero de ter um filho e aceitá-lo. Não deve ser nada fácil a adaptação, por isso quem adota tem que estar disposto a enfrentar tudo para que a adoção dê certo.

    Miss Oak, eu me impressiono com a coragem de gente que adota uma criança com problema. Realmente são pessoas especias, sorte destas crianças.
    Gostei da idéia do documentário, mas deve ter sido triste, pois a realidade destas crianças deve ser dura.

    Beijos

    ResponderExcluir
  7. pois eu gosto de assistir programas com essas super-babás que vão resolver os problemas de uma família em apuros com filhos terríveis, sabe? tipo a supernanny e o SOS babás. E o caso é que muitas vezes nesses programas eu vejo que o grande problema é que os pais não estão felizes com a existência dos filhos. tipo, ter filho é uma coisa 100% irreversível, uma vez que teve, tá lá, não há nada a fazer - e mta gente tem filho não porque escolheu, mas porque entrou na onda, sabe? como se fosse a ordem natural das coisas - vc cresce, arranja um emprego, casa, tem filhos... e aí quem sofre são as crianças, que sentem no dia-a-dia o que é não ser querido. sei lá, talvez seja essa a idéia de se poder "devolver" os filhos adotivos - coisa que eu sempre achei completamente absurda, também. quer dizer, quem adota no mínimo tem que ter noção do compromisso que assume, isso até com quem adota animaizinhos de estimação, quanto mais crianças...
    beijinhos!

    ResponderExcluir
  8. Lu, quando eu vejo estes programas eu também tenho a sensação que os pais tiveram os filhos apenas para satisfazer a pressão da sociedade. As pessoas não pensam na responsabilidade que é ter um filho. E aí vemos pais sem paciência alguma e que não saber impor limites. Eu acredito que nem todo mundo tem o "talento" para ser pai ou mãe. Mas uma coisa eu sei, a pressão para se ter filhos é grande demais depois que a pessoa casa. É TODO mundo cobrando, assim tem uma hora que a pessoa deve ser a achar a "errada" por não ter o filho e resolve tê-lo.
    Enfim, as pessoas deviam pensar menos nas conveções da sociedade e pensar direito no ser humano que pretende criar, seja filho biológico ou adotado.

    Beijos

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Vamos, comente!!!

Postagens mais visitadas deste blog

Viajando Na Pandemia

A Tripulação

Papiers à la Mode